quarta-feira, 24 de março de 2010

Maria Paixão Vera Cruz de Freitas, 75 anos

Qual foi a sua profissão?
- Antigamente era bordadeira.

Quando começou a bordar?
- A minha mãe começou-me a indicar alguma coisa disto eu tinha apenas 10 anos. Depois eu não fui à escola porque o meu pai não me deixou ir, porque não era obrigatório. Eu tinha mais irmãos pequeninos. E depois dediquei-me ao ponto do bordado e hoje a minha reforma é do bordado.

A senhora fazia muitos trabalhos?
- Fazia. Ia bordando às nadinhas, também como hoje eu bordo às nadinhas. Faço um lacinho aqui e ali, mas bordei muito anos.

A senhora trabalhava por conta própria?
- Não, era para a casa de bordados. Tinha um trabalho, a gente fazia e depois eles levavam e davam qualquer coisa. Nesse tempo o trabalho era muito mal pago. Depois casei-me com 22 anos, continuei sempre a bordar e o restante que eu não bordava era agricultora. Dedicava-me à agricultura. Portanto, que a minha vida foi assim. Sempre muito trabalho.

O que é essa pedra?

- É um moinho de pedra. Isto moía o milho à mão... milho e também se moía trigo. Para quem quisesse fazer uma papa chamada frangolho. (Ainda vai ser para eles rir.) Para comer, era farelo e tudo. Era frangolho.

Como é que o moinho funcionava?
- E então colocava-se um pau naquele buraco e lá em cima tinha um encaixezinho de pau, encaixava lá em cima, e então não era um só, e então para rodar esta pedra dentro daquela e a farinha caía ali. Era moído à mão. Ah! Em velocidade à mão, sem água, sem nada, era à força de braços.

Para que servia o moinho?
- Eles levavam milho para bisalhinhos, levavam mesmo para fazer sopa ou coisa... Era num moinho de pedra. O moinho de pedra é isto. Os moinhos que havia antigamente era isto. Podia estar um ano inteiro sem, porque se servisse uma vez ou duas vezes, mas estava com o cabo.

Sabe se o moinho é muito antigo?
- Isso então eu não sei, que isto já foi do casal do meu sogro.

Como faziam os moinhos?
- Eram pedras que tiravam, mas quer dizer, mas faziam, sim, faziam a forma do moinho, porque eles não iam... Ah, bem... Agora não sei se por aí abaixo podia ir alguma, mas nas ribeiras eles não viam assim uma pedra colocada com coisa. Era feita à forma da pedra de cima encaixar para andar de roda para moer o milho.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Manuel José, 80 anos

O senhor ainda se lembra da olaria?
- Lembro-me da olaria e do que eles faziam lá. Faziam tijolo, telha de canudo, “ressalgas”, “escuseiros” e o que mais, tinha mais um nome... púcaras, que era de ir buscar água, com uma asa e um bico para depois despejar a água... Havia lá quatro coisas... telhas de canudo, que já disse, “ressalgas” de salgar carnes, umas grandes e outras pequenas, púcaras, infusas, já eram essas coisas que era de ir buscar água, com um bico e uma asa e telha de canudo.

Quantas pessoas trabalhavam lá?
- Cinco ou seis pessoas. Uns a cozer e outros a amassar a massa, e outros a “botar” dentro da “machina” para aquilo andar de roda, andar de roda e... Depois de estar a massa feita, é o caldeirão a cozer, até ficar seca, aquilo estava seca, eles tiravam para a rua para ela ir secando à viração.

Eles trabalhavam durante todo o ano?
- Era meses, parava não sei quantos meses, dois ou três meses, ementes eles ainda tiravam mais massa, mais... não se preparavam com lenhos, que aquilo era com lenhas.

E fabricavam muitas peças?
- Naquele tempo, minha mãe, naquele tempo toda a gente tinha duas ou três peças para salgar carne, vinho e alhos, para buscar água à fonte que era com aquilo, com aquelas púcaras, tinha uma asa...

terça-feira, 9 de março de 2010

José Sousa Andrade, 67 anos

O senhor ainda se lembra do fabrico da cal?
- Lembro-me que ainda era pequenino, que o meu ainda andou trabalhando na pedreira. O meu pai era o homem que acartava barris de água, um barril era 50 litros. Era dois homens a brocar, com escorpo de aço e outro com uma maceta a bater, depois carregar de fogo, arrebentava, três ou quatro homens a acartar para ao pé do forno, dois homens a partir, um a cozinhar, às vezes era o patrão cá que... depois aquilo era puxada a pedra para o meio do salão, regar com água, com aguador ou mesmo com chuveiro, com água, depois era cirandada, arrumada num monte, depois é que vinham cá buscar para as obras.

O que faziam com a cal?
- Era vendido para obras, quem fazia casas, as casas daquele tempo eram tudo feitas com... chama-se vestir ou por o coisa da telha era tudo com cal e areia. Não havia força de cimento como há agora. E para vestir um tecto, chama-se o tecto da casa, era tudo com cal, cal e areia, pois claro...

Ainda se lembra de quantas pessoas trabalham no fabrico da cal?
- Podia ser 4 na pedreira, 2 a brocar e 2 coisa..., às vezes 3 ou 4 a acartar, conforme o patrão precisava, 2 a partir, 1 forneiro, que chama-se a cozinhar, 1 a cirandar e 1 a acartar água.

Recorda-se se fabricavam cal durante todo o ano?
- Isso então não posso jurar, mas pelo menos seis meses por ano era.

O que faziam para arranjar lenha?
- Já era separado. Cortavam rolos de lenha na serra, trambolhavam pelos corgos abaixo, rolos de carga de 100kg.-120kg., conforme, e para cozinhar a pedra, isso já era separado. Eles compravam a quem cortava a lenha.

Como vendiam a cal?
- Depois era transportado para quem precisava... era cal para o Funchal, era cal para a Boaventura, era cal para quem precisava... Nesse tempo era carregado às costas aqui para a Vila, o meu pai ainda chegou a levar cal a Boaventura às costas, e a mãe do José Ponte e o pai levaram para a Serra de Água, conforme, nesse tempo não havia carro... Havia carro mas não havia era dinheiro.

As sacas eram pesadas?
- Sim, uma saca era 7... nesse tempo era alqueires, podia ser uma coisa de 50kg.-60kg. cada saca de cal. Quer dizer... Se o senhor precisasse de 10kg. eles vendiam, compreendeu?

A pedra só servia para fazer cal?
- A pedra depois de cozida eles guardavam para derregar, derregavam num bidão com coisas... Esta coisa de pintores para pintar casas, nesse tempo havia era isso, não havia a tinta assim como há agora.