quinta-feira, 8 de abril de 2010

António Viveiros Diniz, morreu com 67 anos [entrevista à sua esposa Maria José Serrão]

Qual era a profissão do seu marido?
- Era ferreiro. Era ferreiro desde a data em que ele era rapazinho, que ele se deu em dedicar a ir à serra, que o carvão era feito na serra, eles iam de manhã, de noite ainda para cima. Abril, Maio, que era tempo de Leste. Agora não passava licença para fazer...

Como é que faziam o carvão?
- E então eles iam de manhã, ainda de noite, cortavam a lenha, arrumavam , faziam uma “fogueiraça” e punham por baixo e vinham-se embora. Ele mais o irmão, ou se não fosse ele mais o irmão levavam um homem ou dois homens, que o meu sogro já não ia. E então, depois de madrugada, pela noite adiante, eles iam e queimavam a lenha, queimavam a lenha e apagavam com terra, porque não tinha água, era terra cavada para apagar, metiam o carvão em sacas e traziam pelas serras abaixo, pela Achadinha, o Curral e essas coisas, e punham nos palheiros. E vinham-se embora e depois de noite para se desenrascar traziam estas saquinhas de guano, não traziam uma saca grande, não traziam uma saca grande.

Porque é que traziam pouco de cada vez?
- Aquilo era uma coisa que era leve. Uma saquinha de guano pode-se calcular mais ou menos que peso é que tinha. Porque se eles viessem com uma saca grande e por acaso por azar encontrassem algum malfazejo que desse parte dele, ou que a polícia, a guarda, que andava a guarda na serra, eles apanhavam-se já viam que andavam em coisa e então assim como era uma coisinha e às vezes meia saquinha, que era para um desenrasquezinho, e eles iam passando isso tudo noite rasa.

Quando é que o seu marido começou aquela arte?
- E depois o pai dele ficou sem poder trabalhar e depois foi quando casamos e ele fez a tenda acolá adiante, renovou a tenda, depois a tenda escangalhou-se, e depois foi quando ele fez a tenda aqui e ali um lagarzinho. Ele começou a trabalhar então só.

O seu marido trabalhava só na oficina?
- Só, quer dizer, ele quase nunca estava só. Quando era para estender uma enxada nova ou quando era para estender um pedaço de ferro, que aquilo o ferro vinha assim bruto, como um pedaço de pau, e para “espalmejar” um pedaço de ferro assim, para ficar numa enxada, não é à base de um braço de um homem só, de uma pessoa só. Então vinha este irmão do Agostinho Francisco, o que está hoje no Porto Moniz, vinha ajudá-lo, este também que depois que já se ia arrebitando também vinha e aquele aqui da achada, lá além... O senhor não conhece... O pai do Manuel que estava lá fora que morreu a mãe... Isso era sobrinho do meu sogro, ele então vinha, e depois isto aqui era um palheiro de gado e tinha um sobrado por cima e ele às vezes vinha e passava o dia aqui, e à noite dormia no palheiro.

Quais eram as ferramentas que o seu marido fazia?
- As ferramentas era de tudo: fazia a “pedoa”, fazia a enxada, fazia a foice, fazia a faca, fazia a pá do forno, para o pão, para amassar, fazia ferro de portas, que agora as portas são tudo diferentes, fazia os travessões para pôr atrás das portas para aparafusar, concertava fechaduras, era estas coisinhas assim.

O seu marido vendia muitas ferramentas?
- Sim, ele vendia. Ele fazia isso mas não era para ele. É porque eles precisavam. Vinha aí muita gente: vinha da Lombada, vinha da Ponta Delgada, vinha da Ponta do Sol, vinha do Seixal, vinham aqui pôr e marcavam a solução de vir buscar. Esses vinham buscar. Agora aqui, Cascalho ou Lameiros ou Aviceiro ou mesmo para cima eles diziam: Oh! Olhe, para não se vir buscar, quando estiver pronto o mestre que vá levar. Era a perdição dele porque ele gostava de beber e não se tinha e eles em vez de pagar o justo valor, daquilo que ele fez, davam-lhe uns canecos e ele ficava, pronto, ficava coisa, parece mesmo que estavam a ver porque as vendas se não é um é outro, viam, era o Ricardinho, era o Sr. Gregorinho, era o Sr. Gregório, eles já quando viam já o agarravam e não sei quê e o dinheirinho que ele trazia já ficava ali. Era a perdição dele, porque quando ele estava sério ninguém tinha nada com ele. A dificuldade dele era isto.

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