segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Apresentação do Projecto «As indústrias locais em São Vicente»

Grupo de Jovens: Filipa, Miguel, Eduardo e Fátima.

Bordado madeira e toalha de linho (Dona Bela).

Podoa, machado e gancho de fio (Sr. Freitas).

Cestos ou balaios e vimes (Sr. Artur).

Tapetes de retalhos (riscas casadinhas, espingardas e lagartinhos) e de lã (Sr. Oliveira)

Infusa (Sra. Marta Oliveira)

Telha de meia cana ou canudo (Olaria dos Lameiros).

Cesto do almoço (cesto do Sr. Artur e toalha de linho da Dona Bela).

Ressalga (Sra. Teresa Faria).

Alqueire (Sr. Freitas).

 
Apresentação do trabalho (Miguel Freitas).

 Assistência no «Núcleo Museológico - Rota da Cal»

 Lanche-convívio.

Convivio entre o grupo de jovens e a população local.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Gregório Gabriel de Oliveira, 66 anos

O senhor ainda se lembra da olaria?
- Lembra-me disso, da olaria.

O que faziam na olaria?
- Faziam... faziam púcaras em barro... coisas... outras coisas não... faziam mais coisas mas, mais me lembro o que também me lembro era mais das coisas mais dos restos.

Como produziam as peças de barro?
- Era da terra, era do barro. Não eram coisas que eles fossem comprar, que era tirado da terra e aquilo era cozido. Era cozido, tinha uma coisa por baixo e tinha aquelas pedras, pedras como tem hoje em dia no forno, aquela pedra de forno, mesmo, aquilo era cozido e eles faziam... Faziam a massa e fazia o forno, e tinha o forno.

O que faziam com as peças de barro?
- Vendiam. Era para vender. Nesse tempo sempre vendiam. Não era para uma pessoa... uma pessoa só. Aquilo era para vender.

Sabe dizer-nos porque é que fechou?
- Fechou porque, claro, depois aquilo ninguém se interessou mais que aquilo... Depois houve aquelas coisas já por outros lados e aquilo, as pessoas, aquilo já não se importavam. Nasceu noutros lados, coisas mais fáceis.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Maria Conceição Capontes, 76 anos

Fotografia: Casa da Cal do forno do Barrinho.

A senhora ainda se recorda do forno da cal?
- E depois quando era para eles ir lá, que o forno cozia 24 horas, aquilo não havia dias santos, era domingos e tudo, e depois eles iam lá puxavam aqueles ferros, aquela pedra caía toda para baixo, os homens iam juntando em cestos e botando assim espalhada pelo forno dentro. E depois, eles pegavam, tinha homens a acartar água, tinha um poço, ainda há de estar lá, e.. eles deitavam água naquilo e eles pegavam com os aguadores e iam deitando água na cal. Depois aquilo, ela ia fervendo, é que ia rebentando as pedras. Que, um dia tinha frieiras que não podia andar, o meu pai disse quando lhe fosse lá levar o comer metesse os pés naquela cal. Olhe aquilo estava escaldando, foi escorrendo sangue! Eu vim-me embora, lixei-me. E depois daquela cal estar assim, eles punham uma ciranda grande, amarravam o lenço das mãos assim no nariz e outro dia era para cirandar aquela cal, um do lado e outro do outro, botando aquilo pela ciranda fora, o que era pó caía para baixo e o que era entulha caía e eles tornavam a levar aquilo para lhe dar mais um cozimento. Sim senhores.

Quantas pessoas trabalhavam no forno da cal?
- Trabalhava o pai, estava o Francisco do Pereira, o do Rego, e trabalhava o Agostinho da Candinha, do Cascalho, o pai da mulher do “dezoito”, trabalhava lá. O Agostinho da Candinha era daquela que dava bordados, e trabalhava também lá, trabalhava o tal que eu estou dizendo, o pai da mãe da mulher do “dezoito”, trabalhavam lá nessa altura. Era na pedreira, tiravam a pedra, e depois tinha homens a acartar a pedra de barreleiro para o forno, e depois era assim, e tinha... Eles iam cortar lenha pela serra fora, então o meu irmão Manuel e o Manuel Vicente, que ainda está ali vivo, acartaram lenha dali, do poço do Cabrobeiro, para o forno, davam três... Cinco caminhos por dia, para ganharem 500$00. Era uma vida amargosa. Ora se era duro. E eles iam pela serra fora, e eu ia-lhe levar comer, que eles faziam aqueles cortes de lenha, deitavam pelos corgos abaixo e depois iam acartando para lá para o forno, que aquilo cá era lenha grossa para cozer aquilo. Aquilo levava uma camada de lenha, uma camada de pedra, uma camada de lenha, uma camada de pedra. E aquilo estava vinte e quatro horas a cozer, acolá, e ao depois, ao cabo das vinte e quatro horas eles iam todos. E depois, quer dizer, era uns a tirar a pedra para espalhar, para cirandar, e outros a acartar água de lá de dentro, do poço do Barrinho da cal para eles derreter aquilo. O trabalho do forno era isto.

E a lenha da serra?
- Na serra cá era, tinha homens, mas quer dizer que era, faziam o corte de lenha por sua conta. Já não era por conta do patrão, era por conta deles e depois vendiam a lenha.

O que faziam com a cal?
- E eles acartavam a cal. Não era os homens. Mas tinha-se de falar. Então a gente acartamos cal, acartamos cal de lá para a igreja do Rosário, subia-se ali pela cerca fora. Eu ainda acartei cal para a igreja do Rosário. E eles levavam para a Ponta Delgada e... Os homens acartavam, ganhavam 2$50 para ir à Ponta Delgada, para pôr sete alqueires de cal na Ponta Delgada. Ganhavam 7$50. Era uma vida amargosa, o forno.

O trabalho no forno da cal era muito difícil?
- Ganhavam uma coisa de nada. E para lavar aquelas roupas! Aquilo era uma desgraça, que aquilo não, aquilo... a cal cá... Então a mulher do José Ponte, a mãe desta Alfonsa, acartou cal para a Ponta Delgada, que era o ganho de um e a bezerra, ali... Levavam cal para a Ponta Delgada e ela nunca, nunca... Chegava a casa e nunca tomava banho, e depois ela tinha um cabelo como a Alfonsa, depois foi preciso lho cortar rente e ela andou tantos tempos doente da cabeça enquanto aquilo não crescia. Que aquilo era pegadiço... e na altura não havia sabão para lavar aquelas roupas. A minha mãe ainda chegou a comprar sabonete para se lavar as camisas do pai, que aquilo ficava a pegar que não havia quem tirasse aquele pegamento da cal, aquilo era um trabalho amargoso.