quarta-feira, 2 de junho de 2010

Gregório Gabriel de Oliveira, 66 anos

O senhor ainda se lembra da olaria?
- Lembra-me disso, da olaria.

O que faziam na olaria?
- Faziam... faziam púcaras em barro... coisas... outras coisas não... faziam mais coisas mas, mais me lembro o que também me lembro era mais das coisas mais dos restos.

Como produziam as peças de barro?
- Era da terra, era do barro. Não eram coisas que eles fossem comprar, que era tirado da terra e aquilo era cozido. Era cozido, tinha uma coisa por baixo e tinha aquelas pedras, pedras como tem hoje em dia no forno, aquela pedra de forno, mesmo, aquilo era cozido e eles faziam... Faziam a massa e fazia o forno, e tinha o forno.

O que faziam com as peças de barro?
- Vendiam. Era para vender. Nesse tempo sempre vendiam. Não era para uma pessoa... uma pessoa só. Aquilo era para vender.

Sabe dizer-nos porque é que fechou?
- Fechou porque, claro, depois aquilo ninguém se interessou mais que aquilo... Depois houve aquelas coisas já por outros lados e aquilo, as pessoas, aquilo já não se importavam. Nasceu noutros lados, coisas mais fáceis.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Maria Conceição Capontes, 76 anos

Fotografia: Casa da Cal do forno do Barrinho.

A senhora ainda se recorda do forno da cal?
- E depois quando era para eles ir lá, que o forno cozia 24 horas, aquilo não havia dias santos, era domingos e tudo, e depois eles iam lá puxavam aqueles ferros, aquela pedra caía toda para baixo, os homens iam juntando em cestos e botando assim espalhada pelo forno dentro. E depois, eles pegavam, tinha homens a acartar água, tinha um poço, ainda há de estar lá, e.. eles deitavam água naquilo e eles pegavam com os aguadores e iam deitando água na cal. Depois aquilo, ela ia fervendo, é que ia rebentando as pedras. Que, um dia tinha frieiras que não podia andar, o meu pai disse quando lhe fosse lá levar o comer metesse os pés naquela cal. Olhe aquilo estava escaldando, foi escorrendo sangue! Eu vim-me embora, lixei-me. E depois daquela cal estar assim, eles punham uma ciranda grande, amarravam o lenço das mãos assim no nariz e outro dia era para cirandar aquela cal, um do lado e outro do outro, botando aquilo pela ciranda fora, o que era pó caía para baixo e o que era entulha caía e eles tornavam a levar aquilo para lhe dar mais um cozimento. Sim senhores.

Quantas pessoas trabalhavam no forno da cal?
- Trabalhava o pai, estava o Francisco do Pereira, o do Rego, e trabalhava o Agostinho da Candinha, do Cascalho, o pai da mulher do “dezoito”, trabalhava lá. O Agostinho da Candinha era daquela que dava bordados, e trabalhava também lá, trabalhava o tal que eu estou dizendo, o pai da mãe da mulher do “dezoito”, trabalhavam lá nessa altura. Era na pedreira, tiravam a pedra, e depois tinha homens a acartar a pedra de barreleiro para o forno, e depois era assim, e tinha... Eles iam cortar lenha pela serra fora, então o meu irmão Manuel e o Manuel Vicente, que ainda está ali vivo, acartaram lenha dali, do poço do Cabrobeiro, para o forno, davam três... Cinco caminhos por dia, para ganharem 500$00. Era uma vida amargosa. Ora se era duro. E eles iam pela serra fora, e eu ia-lhe levar comer, que eles faziam aqueles cortes de lenha, deitavam pelos corgos abaixo e depois iam acartando para lá para o forno, que aquilo cá era lenha grossa para cozer aquilo. Aquilo levava uma camada de lenha, uma camada de pedra, uma camada de lenha, uma camada de pedra. E aquilo estava vinte e quatro horas a cozer, acolá, e ao depois, ao cabo das vinte e quatro horas eles iam todos. E depois, quer dizer, era uns a tirar a pedra para espalhar, para cirandar, e outros a acartar água de lá de dentro, do poço do Barrinho da cal para eles derreter aquilo. O trabalho do forno era isto.

E a lenha da serra?
- Na serra cá era, tinha homens, mas quer dizer que era, faziam o corte de lenha por sua conta. Já não era por conta do patrão, era por conta deles e depois vendiam a lenha.

O que faziam com a cal?
- E eles acartavam a cal. Não era os homens. Mas tinha-se de falar. Então a gente acartamos cal, acartamos cal de lá para a igreja do Rosário, subia-se ali pela cerca fora. Eu ainda acartei cal para a igreja do Rosário. E eles levavam para a Ponta Delgada e... Os homens acartavam, ganhavam 2$50 para ir à Ponta Delgada, para pôr sete alqueires de cal na Ponta Delgada. Ganhavam 7$50. Era uma vida amargosa, o forno.

O trabalho no forno da cal era muito difícil?
- Ganhavam uma coisa de nada. E para lavar aquelas roupas! Aquilo era uma desgraça, que aquilo não, aquilo... a cal cá... Então a mulher do José Ponte, a mãe desta Alfonsa, acartou cal para a Ponta Delgada, que era o ganho de um e a bezerra, ali... Levavam cal para a Ponta Delgada e ela nunca, nunca... Chegava a casa e nunca tomava banho, e depois ela tinha um cabelo como a Alfonsa, depois foi preciso lho cortar rente e ela andou tantos tempos doente da cabeça enquanto aquilo não crescia. Que aquilo era pegadiço... e na altura não havia sabão para lavar aquelas roupas. A minha mãe ainda chegou a comprar sabonete para se lavar as camisas do pai, que aquilo ficava a pegar que não havia quem tirasse aquele pegamento da cal, aquilo era um trabalho amargoso.

Maria José de Castro, 74 anos

O que se lembra do forno da cal?
- O que eu me lembro do forno da cal, é o meu avó era sócio mais o Sr. Gregório. Mas o meu avó morreu e depois foi só o Sr. Gregório.

Sabe quem trabalhava no forno da cal?
- Quem trabalhava eu já não me lembro. Mas o meu marido é mais velho, talvez saiba.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Teresa de Jesus Andrade, 69 anos

A senhora recorda-se do forno da cal?
- O que me lembro era assim, a gente ia por lá acima, tinha-se medo de se debruçar sobre aquele poço que ficava fundo, que se a gente caía lá dentro aquilo estava fechado, ninguém tirava a gente de lá para a rua. Até tinha medo do forno da cal.

E onde ficava a pedreira?
- Onde tiravam a pedra era diferente. Era do outro lado. E depois foi quando deu aquela quebrada que matou os dois homens.

Sabe nos dizer quem foram as vítimas desse acidente?
- Era o pai da Laurindinha do Lombo, que ainda está viva, João Alexandre, o pai dela, e o João Gregório, que é o pai do Sr. Andrade Gregório que está nas Feiteiras. Morreram os dois nesse dia. E nesse dia lá estava o Agostinho Diniz, o pai do... Acolá, do que se chama João Baleia, o pai dele estava e ele também ainda ficou aterrado pelos joelhos. Ora! E a gente era crianças e ficou-se com medo, tinha-se muito medo de mortes nesse tempo, depois tinha medo a ir por lá acima, marginava-se muito porque se ia à lenha, ia ao mato, naquele tempo era assim.

Quantos fornos existiam?
- O Sr. Jana fazia a cal dele, cozia ali, havia ali um forno de cal no Lombo do Cravo, já o de lá cima quem manejava era do pai da Belica. Nesse tempo. Depois não sei se uniram o negócio, depois já só existia o da Queimadinha, eu só me lembro da Queimadinha.

Para onde levavam a cal?
- Ai meu Deus! Pois a cal seguia onde fizessem um prédio era levada às costas, até as pequenas e mulheres levavam. Desde aqui à Ponta Delgada. Também mais longe, uma pessoa a pé não podia andar. Eu ainda levei para a Vargem. Eu só podia com um alqueire de cal, nem sequer sei quantos quilos era nesse tempo. Em cal talvez seja mais peso. Mas era só um alqueire. Já os meus irmãos eram mais crescidos, só o que fazia era aquilo queimava muito as mãos, eram mais crescidos, já eles já podiam levar dois alqueires e não era mais. E quem era homem podia levar três ou quatro. A cal era pesada. A cal era mais pesada do que o grão dos cereais.

Para que servia a cal?
- Era só quando estavam fazendo o prédio. Por exemplo, fizeram ali uma casa onde o Sr. Padre dorme, vive, que é a casa paroquial, fizeram lá um prédio, eu mais os meus irmãos levamos cal para lá. Mas não era só nós. Era como numa romaria. Era só nas férias da escola, não se fazia aquilo nos dias da escola.

Ainda se recorda quanto é que recebia?
- Era um escudo. Um alqueire de cal era um escudo. Quem levasse dois alqueires era dois escudos. Era assim. E chegávamos lá já estava sempre o pagador para pagar. Voltava-se com aquele troquinho todos contentes (risos). E trazia-se para casa, não se o comia pelo caminho, que os pais, a mãe tinha que... Era só dispor dos filhos e não ter... Tinha-se que se organizar.

Sabe porque razão deixaram de produzir a cal?
- Depois o Sr. Jana depois que entrou noutros negócios já não... E depois aquilo ficou abatido com aquela quebrada que matou dois homens. Aquilo já... Depois começou a vir cal do Porto Santo, a cal do Porto Santo abateu, do Porto Santo ou do... Isso já vinha em mais quantia. A daqui deixou de ter aquela vendagem.

E ainda se recorda da olaria?
- Lembra-me que havia o lugar da olaria, mas nunca vi fazer as coisas, porque já daí para cá já estava abandonada. Quer dizer, depois que eu me lembro já a olaria estava abandonada.

Lembra-se das peças que produziam?
- Diziam que faziam telha e coisas de barro, mas eu nunca vi as coisas nem nada. Não vi, não posso dizer outra coisa.

Onde é que se localizava a olaria?
- É nos Lameiros, sabe que há ali aquele armazém que pertence a um irmão deste... daqui... o Tecla, que é aquela rapariga que está doente, que é da... aquela rapariga de Boaventura que tem estado em tratamento, aquela cerca grande que ela planta, agora a mulher não pode, mas plantava, tem lá um armazém e atrás tem um armazém que pertence à... uma irmã.... uma tia do Sr. Oliveira, que ela nunca vendeu, que é um armazém e uma cerca, e depois tem o camalhão da levada e a olaria ficava mais para o lado, para o lado do avesseiro. Era ali.