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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Teresa de Jesus Andrade, 69 anos

A senhora recorda-se do forno da cal?
- O que me lembro era assim, a gente ia por lá acima, tinha-se medo de se debruçar sobre aquele poço que ficava fundo, que se a gente caía lá dentro aquilo estava fechado, ninguém tirava a gente de lá para a rua. Até tinha medo do forno da cal.

E onde ficava a pedreira?
- Onde tiravam a pedra era diferente. Era do outro lado. E depois foi quando deu aquela quebrada que matou os dois homens.

Sabe nos dizer quem foram as vítimas desse acidente?
- Era o pai da Laurindinha do Lombo, que ainda está viva, João Alexandre, o pai dela, e o João Gregório, que é o pai do Sr. Andrade Gregório que está nas Feiteiras. Morreram os dois nesse dia. E nesse dia lá estava o Agostinho Diniz, o pai do... Acolá, do que se chama João Baleia, o pai dele estava e ele também ainda ficou aterrado pelos joelhos. Ora! E a gente era crianças e ficou-se com medo, tinha-se muito medo de mortes nesse tempo, depois tinha medo a ir por lá acima, marginava-se muito porque se ia à lenha, ia ao mato, naquele tempo era assim.

Quantos fornos existiam?
- O Sr. Jana fazia a cal dele, cozia ali, havia ali um forno de cal no Lombo do Cravo, já o de lá cima quem manejava era do pai da Belica. Nesse tempo. Depois não sei se uniram o negócio, depois já só existia o da Queimadinha, eu só me lembro da Queimadinha.

Para onde levavam a cal?
- Ai meu Deus! Pois a cal seguia onde fizessem um prédio era levada às costas, até as pequenas e mulheres levavam. Desde aqui à Ponta Delgada. Também mais longe, uma pessoa a pé não podia andar. Eu ainda levei para a Vargem. Eu só podia com um alqueire de cal, nem sequer sei quantos quilos era nesse tempo. Em cal talvez seja mais peso. Mas era só um alqueire. Já os meus irmãos eram mais crescidos, só o que fazia era aquilo queimava muito as mãos, eram mais crescidos, já eles já podiam levar dois alqueires e não era mais. E quem era homem podia levar três ou quatro. A cal era pesada. A cal era mais pesada do que o grão dos cereais.

Para que servia a cal?
- Era só quando estavam fazendo o prédio. Por exemplo, fizeram ali uma casa onde o Sr. Padre dorme, vive, que é a casa paroquial, fizeram lá um prédio, eu mais os meus irmãos levamos cal para lá. Mas não era só nós. Era como numa romaria. Era só nas férias da escola, não se fazia aquilo nos dias da escola.

Ainda se recorda quanto é que recebia?
- Era um escudo. Um alqueire de cal era um escudo. Quem levasse dois alqueires era dois escudos. Era assim. E chegávamos lá já estava sempre o pagador para pagar. Voltava-se com aquele troquinho todos contentes (risos). E trazia-se para casa, não se o comia pelo caminho, que os pais, a mãe tinha que... Era só dispor dos filhos e não ter... Tinha-se que se organizar.

Sabe porque razão deixaram de produzir a cal?
- Depois o Sr. Jana depois que entrou noutros negócios já não... E depois aquilo ficou abatido com aquela quebrada que matou dois homens. Aquilo já... Depois começou a vir cal do Porto Santo, a cal do Porto Santo abateu, do Porto Santo ou do... Isso já vinha em mais quantia. A daqui deixou de ter aquela vendagem.

E ainda se recorda da olaria?
- Lembra-me que havia o lugar da olaria, mas nunca vi fazer as coisas, porque já daí para cá já estava abandonada. Quer dizer, depois que eu me lembro já a olaria estava abandonada.

Lembra-se das peças que produziam?
- Diziam que faziam telha e coisas de barro, mas eu nunca vi as coisas nem nada. Não vi, não posso dizer outra coisa.

Onde é que se localizava a olaria?
- É nos Lameiros, sabe que há ali aquele armazém que pertence a um irmão deste... daqui... o Tecla, que é aquela rapariga que está doente, que é da... aquela rapariga de Boaventura que tem estado em tratamento, aquela cerca grande que ela planta, agora a mulher não pode, mas plantava, tem lá um armazém e atrás tem um armazém que pertence à... uma irmã.... uma tia do Sr. Oliveira, que ela nunca vendeu, que é um armazém e uma cerca, e depois tem o camalhão da levada e a olaria ficava mais para o lado, para o lado do avesseiro. Era ali.

Maria Gregório de Oliveira, 79 anos

A senhora ainda se recorda da produção da cal?
- Sou filha do dono daquilo, do Forno da Cal. Nesse tempo era como se chamava, era uma empresa, era onde as pessoas iam ganhar o seu dia, os homens, havia muitos trabalhadores, muitos homens que iam para lá trabalhar, uns iam para a lenha outros iam tirar a pedra para cozer, coziam, preparavam aquilo tudo para cozer a lenha, a cal, a pedra, e depois tiravam do forno, tiravam a pedra e espalhavam no chão do forno e deitavam água por cima, para aquilo se desfazer para ficar em cal, para ficar a cal. Era peneirada, depois, ficava uma parte em pó, outra em pedra, que era para pintar as casas, as casas naquele tempo eram pintadas com a cal. Depois desfaziam a pedra para pintar as casas. E faziam a calçada toda, olhe isto aqui foi isso tudo com pedra de lá, sim. Foi de lá.

Havia muitas pessoas ligadas a esse trabalho?
- Muita gente trabalhava lá. As mulheres iam levar o comer aos homens que andavam lá e eu também ia levar ao meu pai. Ainda se fazia a venda. A mãe ficava na venda e tinha a minha irmã Belica... mas eu era a mais dedicada que ia lá levar o comer.

Como faziam para vender a cal?
- Para vender iam, iam mulheres e tudo. Aquela do, ela é que se lembra disso, a Alfonsa, ela não disse que ainda criou um casco na cabeça de acartar as sacas de cal. Iam até à Ponta Delgada levar. O transporte era a pé. E para o Rosário, para a igreja do Rosário. Era assim, era tudo a pé.

E recorda-se do acidente da pedreira?
- Lembro-me de quando caiu a quebrada, que morreram dois homens. Um chamava-se João Gregório e o outro, como era o nome do outro, Manuel do Lombo... deve ser Diniz, eram ambos do Cascalho. Foi uma quebrada. Estavam a furar e caiu a quebrada e ficaram atupidos, ficou lá a bota de um. Só depois de uns tempos é que encontraram a bota lá dentro da rocha.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Maria Isabel Oliveira Sousa Capontes, 71 anos

Ainda se lembra do forno da cal?
- No forno da cal da Queimadinha, eles cortavam lenha, havia um buraco, a rocha era tirada em baixo na pedreira, acartavam, era uma camada de lenha, uma camada de pedra, uma camada de lenha, uma camada de pedra, uma camada de lenha, e depois pegavam lume de baixo para cima, pois eu vi, estava em baixo uns homens a tirar a pedra cozida para fora e lhe deitando água, que era para a pedra derreter, eu sei que eu vi muitas vezes com o meu pai trabalhando lá.

Onde trabalhava o seu pai?
- Era em baixo, na altura ele abrasou-se, abrasou-se nos braços ou... abrasou-se lá no tirar a rocha conforme ia caindo de cima para baixo, eles estavam por baixo, como tem ali, naquele de acolá. Era igual. Aquele de acolá e o de lá de cima era igual. Tanto eu vi acolá como vi lá em cima.

Havia mais alguém da sua família a trabalhar nesse forno?
- E depois era famílias, como a minha mãe, era pobrezinha, e o José Ponte aqui em cima, a mãe do José Ponte e outras famílias. A igreja do Rosário foi feita com essa cal, de lá. A gente acartava-se, ia-se lá buscar, levava-se o que agente se podia, eu mais a minha mãe e os que podiam. Subia-se, atravessava-se isto por aqui a baixo, pelos Barros para lá, até ao Foro, do Foro subia-se à Terça, e da Terça ia-se para o Rosário, sempre a acartar cal. Quer dizer, não era todo o dia, era um caminho por dia que se dava, para poder se ganhar qualquer dinheiro.

Quantos homens trabalhavam no forno da Queimadinha?
- Ah! Isso então aqui não tenho a certeza. Eu sei que trabalhava mais homens, mas os homens que eram não tenho... E já os homens que morreram em baixo, estavam a tirar a rocha.

A senhora conheceu-os?
- Conheci. Era o Manuel Gregório, daqui, que era o sogro do “Perdido” e o pai do... o marido... o pai daquela Teresa acolá, do senhor Manuel, acolá, chamava-se o “Pai do Queridinho”, o “Queridinho” está em Londres, que era o marido da “viuvinha do Lombo”, que chamavam à mãe da Teresa era a “viuvinha do Lombo”. Eles morreram no dia do Sagrado Coração de Jesus.

Ainda se lembra desse dia?
- Eu ainda era pequena. A gente ia-se, eu mais a mãe, ia-se para a Ribeira Grande cascar vimes e a gente ia-se ali, de manhã, ia-se com a senhora Laudina, o senhor não conhece mas a senhora daquele tempo trazia gente a acartar vimes para depois fazer cestos e fazer campas e aquilo tudo. A gente ia-se para a Ribeira Grande quando se era ali ao descer, agora tem a estrada mas antigamente era o caminho velho, a casa da mãe do tio José, o caminho era por ali para lá, da Teresinha Madeira, era por aí para lá, e a gente estava-se por aí para lá, quando eles a gritar acolá no palheiro do boi que tinha morrido duas pessoas na pedreira. Mas foi-se trabalhar, depois foi quando se soube que era o Manuel Gregório. Olhe, eu aqui não sei se era Manuel Gregório se era João Gregório. Aqui já não tenho bem a certeza. E o pai do “Queridinho”. E estavam a tirar rocha, e veio aquela peça... estavam numa furna a tirar rocha e veio uma taipa de cima para baixo. Os que puderam fugir, um acho que ainda ficou enterrado pelas pernas e os outros dois ficaram dentro da furna, afogaram. Tiraram-nos, mas morreram nessa altura. Isso cá eu lembro-me bem, já era uma raparigota.

Depois disso deixaram de trabalhar na pedreira?
- Continuaram. Nessa altura a cal era por conta do senhor Jana. Tiravam a cal era por conta do senhor Jana, porque quando eles abriram esta estrada aqui, ele ainda tirou a cal que era para levar lá pedra. Ele é que abriu esta estrada aqui só por causa desse forno da cal, da pedreira, já não era o forno, deixaram de cozer cal. Já era a pedreira para tirar rocha para levar para outros lugares.

Quando foi que isso aconteceu?
- A pedreira começou a funcionar anos depois, depois do senhor Jana resolver a tirar mais rocha e foi quando abriu esta estrada daqui lá cima. Olhe quando ele abriu esta estrada aqui talvez já tem uns quarenta anos, eu já tinha a minha casinha aqui, e a minha filha mais velha fez quarenta e seis ou quarenta e sete e ela tinha um aninho e tal quando se veio para aqui.

Como funcionava o tear?
- O tear era dois paus, assim sobre o comprido, e fazia outro pau assim, dois paus atravessados, um em cima e outro em baixo, em baixo fazia outro, fazia coisa... e tinha dois... setas, à moda de duas setas. E tinha um... na ponta fazia um buraquinho e eles metiam um atilho naquele buraquinho e noutro, que era para amarrar para cima para os liços, e conforme se mudava os pés, os liços, e em cima fazia outra, e fazia uma tornilha... acho que era assim, com o fio também estava metido lá e é que abria os liços para meter o algodão, para meter o retalho, para meter o linho, para meter o algodão para fazer favo, era isso tudo assim, e em cima fazia outro órgão onde se embrulhava o algodão. Embrulhava-se o algodão. Vinha o algodão de cima para baixo e metia-se neste liço e a seguir punha-se os fios assim trocados, assim na mão, e depois metia-se um neste lado e outro no fio da frente e ia-se fazendo sempre assim, sempre assim, da largura que a gente queria, o tapete ou a toalha ou uma coisa assim, e depois ia-se enrolando aqui conforme ia tecendo. Tinha um buraco aqui, no cabo do pau, um buraco aqui, um buraco em cima, que era para se meter uma turquês para se ir enrolando. Acolá para descer o algodão para baixo e este aqui para se ir enrolando o que a gente ia-se tecendo em baixo, e ficava aqui em baixo, conforme enrola, ficava aqui em baixo, e o tear era assim.

Que outros aparelhos eram necessários para tecer?
- Tinha outros aparelhos diferentes... Oh cão...! Que já não me lembro como era aquela coisinha pequenina... Tinha a dobadoira, que era de dobar o algodão para pôr em novelos, tinha... Ah! Era uma coisa pequenina... A mãe, Deus lhe dê o céu, tinha uma tábua assim, onde fazia-se, chamava-se o cincho ou... Uma coisa assim, fazia-se assim com a mão e ia-se fazendo a canelinha já dobando, a mãe tinha a passadeira, que era a tal que passava com uma tabuinha assim, punha-se um caninho de cana por dentro, quando eles faziam aquelas canelinhas todas para fazer o linho, para fazer favo. Era só para isso assim. O retalho cá era com uma cana, embrulhava-se era o retalho no que se chamava “cevadas”, e ia-se passando sempre assim e assim... A mãe tinha a coisa de fazer canelas... Tinha a dobadoira, tinha o pente, que é um pente de pôr em cima para o algodão descarregar, com muitas caninhas, assim, com muitas caninhas... A prima acolá em baixo tem isso tudo, a mãe também tinha isso tudo.

Onde faziam os fios usados no tear?
- O que se fazia com essa coisa com dentinhos... Primeiro enrolava-se acolá, uma puxava acolá e outra puxava aqui, que era para depois ficar as ramelas acolá, para ficar duro, para não ficar bambo, para o algodão não ficar bambo. Depois disso, punha-se a tal com os tais dentinhos assim à frente, para o algodão descansar, para depois ir metendo aquilo nos liços.

Havia muitos modelos de tapetes?
- O que fazia com o tear era tapetes de retalhos, a mãe, Deus lhe deu o céu, fazia com novelos, fazia com flores, fazia com “lagatinhos”, eu tinha também um com “lagatinhos”. Isto aqui chama-se riscas casadinhas, este aqui é igual, mas eu tenho aqui um.. chama-se espingardas, começava aqui estreitinho... começava aqui largo, acabava aqui estreitinho, começava uma aqui largo, acabava aqui estreitinho, novelos, flores que faziam em tapetes.

Além dos tapetes de retalhos, o que faziam com o linho e o algodão?
- E quando era linho, era linho a urdir acolá, era linho a urdir, linho daquele tempo que eles semeavam, e gramavam, e fiavam, era linho e embrulhavam o linho acolá e depois fazia-se as canelinhas e essa passadeira é que passava o linho, já não era retalhos, era linho igual, chamava-se toalhas de linho, e quando era favo, era favo, às vezes era algodão a urdir e linho a tapar, conforme eles queriam, e se eles queriam tudo branquinho era linho... era algodão acolá e algodão aqui a tapar. Ficava branquinho. Era favo, mas então cá eu nunca vi tecer.

As peças eram depois vendidas?
- Vendiam. Era acolá em baixo. Algodão, favo, era tudo toalhas... pessoas que mandavam tecer, encomendas...