terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Maria Teresa, 78 anos

Como faziam a ceifa do trigo?
- Ajuntava-se muito pessoal para apanhar o trigo, depois apanhava-se às mãos-cheias e dava-se ao ceifeiro para ele roçar, tinha um homem só para acartar o trigo. E a seguir apanhava-se aquela seara de trigo, já amanhã já se ia para outra e depois já se ia para outra e ia-se andando assim... E depois voltava-se atrás limpar o mato, o restolho tudo bem malhado, e amarrar às amassadouras para guardar, para abafar palheiros, porque os palheiros eram todos abafados a restolho. Naquele tempo era assim. Guardava-se o restolho, voltava-se atrás para riscar regos e para plantar rama. Era arrancar adubo do palheiro para a rua, assim em cima das costas como estou aqui e anda pô-lo às costas pela terra dentro, tanto diz eu como a minha irmã, como a outra que está lá fora “entramelada”, a Cristina.

Para que servia o trigo?
- Havia moinhos para moer o trigo e depois amassava-se pão de casa e pisava-se para se fazer sopa e guardava-se a semente. E semeava-se cevada, também se fazia sopa de cevada. Também era malhada...

Quantos moinhos havia?
- Havia um moinho lá em baixo, na Vila, ainda estão lá as paredes... Onde era esse moinho, abaixo da praça.

O que fazia mais?
- Eu andava nos vimes, lá em baixo na praça, a esgalhar vimes e acartar de braçado que estavam lá uns rapazes a aterrar contra a água para grelar para depois serem descascados. Era eu e minha irmã Cristina, que se andava lá as duas. Quando lá numa certa altura, ainda andei nas cascas dos vimes. A seguir já para baixo já não arranjaram mais, já era aqui em cima na Corrida que havia outra vez, essa coisa de vimes foi inté ao buraco da Ribeira Grande, bem ao cabo, ao pé da casa do velhinho... (esquece-me o nome) o Manuel dos Ramos. Fui até lá cascar vimes. E acartava-se depois de descascados pelo Lombo das Faias.

Os vimes serviam para quê?
- Os vimes serviam para cestos de vindima, para tampas, para obras, armários como ainda tenho para acolá um que também é de vimes, aqueles miudinhos, faziam um cestinho como aquele que está naquele canto, aquele. Era tudo para obras, tudo... E se um fosse apanhado a cortar um vime da serra de outro, para amarrar um molhinho de erva, era um levação que se lixava, e para dar ganho, bom, tinha-se que se avergar o serrote dois ou três dias para pagar o raio dos dois viminhos assim pequeninos para se amarrar um molhinho de erva para a gente. Não era nada de vimes grandes, eram aqueles pequeninos, dois viminhos amarradinhos, pronto, lá se ia embora. Comi lá umas vergalhadas que me derem que, não sei como não me mataram mesmo...

Cantigas de antigamente:

Chame da rua, chame o meu bem, que eu vou ir ao marco uma bolia... (o fôlego já é pouco...)
E dá-lhe??? que eu era nova, ao meu bem que eu, se era velha lá ia...

Cantiga da ceifa:
Vamos apanhar o trigo,
vamos lhe fazer a sesta,
vamos apanhar o trigo,
vamos lhe fazer a sesta,
para que o dono não diga,
que raça de gente é esta
Ai, ai ai que raça de gente é esta.

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