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terça-feira, 27 de abril de 2010

Artur José de Andrade, 74 anos

Quando foi que começou a trabalhar os vimes?

- Eu comecei a trabalhar mais novo, agora... Eu trabalhei com 28, mais ou menos 28 anos... E se for coisa ainda faço, eu já não posso, mas eu faço.

Quais eram as obras que fazia?
- Fazia cestos de rocha, não aguentava, faziam cinco cargas daquilo. Era só cestos.

Como é que fazia para arranjar os vimes?
- Era apanhar, deitar numa goma, secava, depois para ir afogar para a água, para o poço. Aquilo era lá em tempos onde se tinha o arrebentão.

O senhor fazia muitos cestos?
- Não era 28 anos, era 26, 26 anos... Quer dizer, o mais que eu trabalhei foi isto. Fazia 8, 9 cestos por dia. Depois comecei em pedreiro.

Tinha alguém a ajudá-lo a fazer os cestos?
- Trabalhava outro, mas cada um trabalhava por conta do patrão, do Sr. Carlos Delgado, acolá da padaria, ele morava ao pé da padaria, ao lado de cima, naquela casa velha. Ele não morava, o pai dele, o pai dele é que morava lá. Fazia cestos e vendia, pois. Esteve-se tantos anos a mandar carros de cestos para a cidade. Vendia para firmas, para rocha. Estes cestos era para acartar rocha.

O senhor fazia cestos mais pequenos?
- Esses era só para casa. Tenho ali em baixo um disso. Servia para levar comer e ajuntar comer na fazenda e... Este, o dono deste já morreu, é o Sr. Joãozinho da Corrida, que era para ele. Este assim é para o lagar e de mão, cestos de mão mais ou menos como isto.

E cestos muito pequeninos?
- Ah! isso era mais uma parrilha. Para embelezar ou qualquer coisa.

Dedicou a sua vida à obra de vimes?
- Foi quase sempre em vimes, até meados de 40 anos, mas a seguir embarquei e depois vim e continuei a fazer isto outra vez. Havia eu e o Pereira acolá em cima, o Sr. Manuel Pereira e um da Lombada.

Dava algum tratamento especial aos vimes?
- O vime era cascado, a seguir ir secando, secar, guardar, e depois para a água outra vez para ficar mole para trabalhar outra vez. Qualquer uma obra disto tinha que ir à água.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Maria Teresa, 78 anos

Como faziam a ceifa do trigo?
- Ajuntava-se muito pessoal para apanhar o trigo, depois apanhava-se às mãos-cheias e dava-se ao ceifeiro para ele roçar, tinha um homem só para acartar o trigo. E a seguir apanhava-se aquela seara de trigo, já amanhã já se ia para outra e depois já se ia para outra e ia-se andando assim... E depois voltava-se atrás limpar o mato, o restolho tudo bem malhado, e amarrar às amassadouras para guardar, para abafar palheiros, porque os palheiros eram todos abafados a restolho. Naquele tempo era assim. Guardava-se o restolho, voltava-se atrás para riscar regos e para plantar rama. Era arrancar adubo do palheiro para a rua, assim em cima das costas como estou aqui e anda pô-lo às costas pela terra dentro, tanto diz eu como a minha irmã, como a outra que está lá fora “entramelada”, a Cristina.

Para que servia o trigo?
- Havia moinhos para moer o trigo e depois amassava-se pão de casa e pisava-se para se fazer sopa e guardava-se a semente. E semeava-se cevada, também se fazia sopa de cevada. Também era malhada...

Quantos moinhos havia?
- Havia um moinho lá em baixo, na Vila, ainda estão lá as paredes... Onde era esse moinho, abaixo da praça.

O que fazia mais?
- Eu andava nos vimes, lá em baixo na praça, a esgalhar vimes e acartar de braçado que estavam lá uns rapazes a aterrar contra a água para grelar para depois serem descascados. Era eu e minha irmã Cristina, que se andava lá as duas. Quando lá numa certa altura, ainda andei nas cascas dos vimes. A seguir já para baixo já não arranjaram mais, já era aqui em cima na Corrida que havia outra vez, essa coisa de vimes foi inté ao buraco da Ribeira Grande, bem ao cabo, ao pé da casa do velhinho... (esquece-me o nome) o Manuel dos Ramos. Fui até lá cascar vimes. E acartava-se depois de descascados pelo Lombo das Faias.

Os vimes serviam para quê?
- Os vimes serviam para cestos de vindima, para tampas, para obras, armários como ainda tenho para acolá um que também é de vimes, aqueles miudinhos, faziam um cestinho como aquele que está naquele canto, aquele. Era tudo para obras, tudo... E se um fosse apanhado a cortar um vime da serra de outro, para amarrar um molhinho de erva, era um levação que se lixava, e para dar ganho, bom, tinha-se que se avergar o serrote dois ou três dias para pagar o raio dos dois viminhos assim pequeninos para se amarrar um molhinho de erva para a gente. Não era nada de vimes grandes, eram aqueles pequeninos, dois viminhos amarradinhos, pronto, lá se ia embora. Comi lá umas vergalhadas que me derem que, não sei como não me mataram mesmo...

Cantigas de antigamente:

Chame da rua, chame o meu bem, que eu vou ir ao marco uma bolia... (o fôlego já é pouco...)
E dá-lhe??? que eu era nova, ao meu bem que eu, se era velha lá ia...

Cantiga da ceifa:
Vamos apanhar o trigo,
vamos lhe fazer a sesta,
vamos apanhar o trigo,
vamos lhe fazer a sesta,
para que o dono não diga,
que raça de gente é esta
Ai, ai ai que raça de gente é esta.