terça-feira, 27 de abril de 2010

Maria José Serrão, 77 anos

Foto: Prensa da oficina de ferreiro.

O que fazia o seu marido?

- O meu marido era ferreiro.

Quando foi que ele aprendeu essa arte?
- Ele trabalhou aqui, de novo, ele trabalhou até vinte e tal anos, quase trinta. Porque ele, claro, depois da gente casar ele já tinha mais uma idade. Mas enquanto era novo começou a trabalhar de ferreiro. E claro que, fazia enxadas, fazia foices, apontava escopros, aqueles escopros que davam fogo, aquele fogo que faziam um buraco para rebentar a pedra. Era essas coisas todas assim.

Quem é que lhe encomendava trabalho?
- Ele trabalhava para a câmara. Eles vinham cá para arranjar a ferramenta. Vinha até da Ribeira da Janela e de Ponta Delgada e desses lados, vinha tanta gente para aqui.

Tinha alguém que o ajudava?
- Ah! tinha às vezes até dois empregados. Tinha dois rapazes. Tinha o Clemente, das Lombadas, o meu cunhado também era ferreiro, também vinha ajudar. Um que era ferreiro, que era da Vargem também trabalhou com ele. Ah! E veio um do Funchal, também ajudar. Quando não estava um ele tinha de ir buscar outro. Eles levantavam-se de madrugada para bater ferro. E era esta cruz que se tinha. Nesse tempo tinha trabalho. Tinha trabalho porque o trabalho que era feito era todo assim... à mão, ferreiros e essas coisas todas. Não é como agora, que agora é tudo com máquinas que eles fazem uma coisa. Agora é diferente... Antes era diferente, era muito diferente.

O seu marido trabalhou a vida toda como ferreiro?
- Depois a gente embarcou-se e isso ficou por aí tudo... Ele dizia que ainda às vezes aquelas faquinhas que ele lá era... descarnava carne, quando caía o cabo, ele ia guardando as facas que era para quando chegasse aqui arranjar um cabinho. Mas, olhe, chegou aqui já veio doente e morreu-lhe a pachorra e nunca mais arranjou nada, nada disso. Já viu! Até um picão ele trouxe, que era de picar pedra, uma pedra mole que era para fazer passadas, ele ainda fez naquele canto, as passadas para subir por aqui acima.

Sem comentários:

Enviar um comentário