terça-feira, 27 de abril de 2010

Maria Gregório de Andrade, 84 anos

Para que servia o moinho de pedra?
- Para moer milho, para moer trigo, para moer... fazia-se frangolho.

O que é o frangolho?
- Era o trigo moído e depois fazia-se, fazia-se como eles faziam caldo de farinha, na panela, e era frangolho, aquilo tinha... A gente andava à roda da minha mãe para se cozer e toda a gente falava em frangolho, tinha feito frangolho e a gente queria, queria aquilo, mas depois não se gostava. Era diferente do milho, não era como o milho. Quer dizer, moía-se, mas não se peneirava. Aquilo era assim, tudo farinha e... Para comer.

E usavam o moinho para mais alguma coisa?
- Quando o meu pai veio de fora trouxe café em grão e moeu-se no moinho. E o café era bom, era forte, era bom.

Maria Mendes de Freitas Luís, 75 anos

Fotografia: Estado actual do forno da olaria.

A senhora ainda se recorda da olaria?
- De andar na fazenda e ver aquilo lá de porta aberta, a minha mãe dizia que era uma olaria. Eu lembro-me é disto, a porta aberta e abafada com silvado e a minha mãe dizia que era uma olaria.

O que faziam nesse local?
- É de fazer alguidares de barro, púcaras e... salgas para salgar carne de porco. Naquele tempo não havia congeladores. Não sei mais nada. Sei que faziam coisas de barro. Faziam telhas...

Maria José Serrão, 77 anos

Foto: Prensa da oficina de ferreiro.

O que fazia o seu marido?

- O meu marido era ferreiro.

Quando foi que ele aprendeu essa arte?
- Ele trabalhou aqui, de novo, ele trabalhou até vinte e tal anos, quase trinta. Porque ele, claro, depois da gente casar ele já tinha mais uma idade. Mas enquanto era novo começou a trabalhar de ferreiro. E claro que, fazia enxadas, fazia foices, apontava escopros, aqueles escopros que davam fogo, aquele fogo que faziam um buraco para rebentar a pedra. Era essas coisas todas assim.

Quem é que lhe encomendava trabalho?
- Ele trabalhava para a câmara. Eles vinham cá para arranjar a ferramenta. Vinha até da Ribeira da Janela e de Ponta Delgada e desses lados, vinha tanta gente para aqui.

Tinha alguém que o ajudava?
- Ah! tinha às vezes até dois empregados. Tinha dois rapazes. Tinha o Clemente, das Lombadas, o meu cunhado também era ferreiro, também vinha ajudar. Um que era ferreiro, que era da Vargem também trabalhou com ele. Ah! E veio um do Funchal, também ajudar. Quando não estava um ele tinha de ir buscar outro. Eles levantavam-se de madrugada para bater ferro. E era esta cruz que se tinha. Nesse tempo tinha trabalho. Tinha trabalho porque o trabalho que era feito era todo assim... à mão, ferreiros e essas coisas todas. Não é como agora, que agora é tudo com máquinas que eles fazem uma coisa. Agora é diferente... Antes era diferente, era muito diferente.

O seu marido trabalhou a vida toda como ferreiro?
- Depois a gente embarcou-se e isso ficou por aí tudo... Ele dizia que ainda às vezes aquelas faquinhas que ele lá era... descarnava carne, quando caía o cabo, ele ia guardando as facas que era para quando chegasse aqui arranjar um cabinho. Mas, olhe, chegou aqui já veio doente e morreu-lhe a pachorra e nunca mais arranjou nada, nada disso. Já viu! Até um picão ele trouxe, que era de picar pedra, uma pedra mole que era para fazer passadas, ele ainda fez naquele canto, as passadas para subir por aqui acima.

Artur José de Andrade, 74 anos

Quando foi que começou a trabalhar os vimes?

- Eu comecei a trabalhar mais novo, agora... Eu trabalhei com 28, mais ou menos 28 anos... E se for coisa ainda faço, eu já não posso, mas eu faço.

Quais eram as obras que fazia?
- Fazia cestos de rocha, não aguentava, faziam cinco cargas daquilo. Era só cestos.

Como é que fazia para arranjar os vimes?
- Era apanhar, deitar numa goma, secava, depois para ir afogar para a água, para o poço. Aquilo era lá em tempos onde se tinha o arrebentão.

O senhor fazia muitos cestos?
- Não era 28 anos, era 26, 26 anos... Quer dizer, o mais que eu trabalhei foi isto. Fazia 8, 9 cestos por dia. Depois comecei em pedreiro.

Tinha alguém a ajudá-lo a fazer os cestos?
- Trabalhava outro, mas cada um trabalhava por conta do patrão, do Sr. Carlos Delgado, acolá da padaria, ele morava ao pé da padaria, ao lado de cima, naquela casa velha. Ele não morava, o pai dele, o pai dele é que morava lá. Fazia cestos e vendia, pois. Esteve-se tantos anos a mandar carros de cestos para a cidade. Vendia para firmas, para rocha. Estes cestos era para acartar rocha.

O senhor fazia cestos mais pequenos?
- Esses era só para casa. Tenho ali em baixo um disso. Servia para levar comer e ajuntar comer na fazenda e... Este, o dono deste já morreu, é o Sr. Joãozinho da Corrida, que era para ele. Este assim é para o lagar e de mão, cestos de mão mais ou menos como isto.

E cestos muito pequeninos?
- Ah! isso era mais uma parrilha. Para embelezar ou qualquer coisa.

Dedicou a sua vida à obra de vimes?
- Foi quase sempre em vimes, até meados de 40 anos, mas a seguir embarquei e depois vim e continuei a fazer isto outra vez. Havia eu e o Pereira acolá em cima, o Sr. Manuel Pereira e um da Lombada.

Dava algum tratamento especial aos vimes?
- O vime era cascado, a seguir ir secando, secar, guardar, e depois para a água outra vez para ficar mole para trabalhar outra vez. Qualquer uma obra disto tinha que ir à água.